A Lei Federal nº 10.098 obriga os parques de diversões a adaptar no mínimo 5% de cada brinquedo para crianças com deficiências ou mobilidade reduzida. Quem trabalha e convive com pessoas com algum tipo de deficiência motora sabe que o pior que pode ser feito é não incluí-las em alguma atividade.
O gerente de projetos e segurança do Snowland, Teo Borzone, acha que a mobilidade reduzida não significa que as pessoas não possam curtir a vida e as atividades que o mundo oferece. “Eu acho totalmente essencial e necessário que as estruturas e as pessoas estejam preparadas para lidar com quem tem limitações. Ou seja, um mundo para todos, sem restrições, e que as atividades básicas de todo dia, como dirigir, andar pela rua ou visitar um parque de entretenimento, sejam cada vez mais fáceis para todos”, esclarece.
As leis e normas que apoiam esta causa são primordiais para fazer com que as empresas e governos adotem medidas para o tipo de demanda. E quando o assunto é acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência em parques de diversões, as principais práticas que devem ser adotadas são: capacitar a fonte humana, ou seja, as pessoas e os funcionários, para que eles saibam como lidar com alguém que tenha necessidades especiais, não só limitações motoras, mas também mentais, e adaptar também as estruturas, já que as pessoas capacitadas requerem equipamentos e suportes adequados para enfrentar as diferentes situações que possam ocorrer.
Em 2018, a Comissão da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), coordenada pela Adibra, se reuniu para discutir novas demandas para as normas técnicas. Referente ao capítulo 7, que aborda parques de neve, considerada uma necessidade específica, foi proposto levantar a norma da federação mundial de equipamentos de neve como modelo a ser seguido. Segundo Teo, que faz parte da comissão e foi o responsável por sugerir adicionar os esportes de neve especiais neste capitulo, já que considera que a neve é patrimônio mundial, de lá para cá, não houve muitos avanços nesse sentido. “A neve é significado de diversão para todos, sem exceção, alto, baixo, mulher, homem, idoso, jovem, atleta, cadeirante, mas isto tem que ser feito de maneira responsável, seguindo normas, boas práticas e modelos que já foram testados e que funcionam no mundo todo. Na ABNT, ainda não avançamos sobre as normas de esportes paralímpicos, mas será assunto na próxima reunião, onde teremos maiores informações técnicas para abordar o tema e incluir no capítulo”, menciona.
Considerado um parque modelo em diversos aspectos, inclusive em inclusão e acessibilidade, o Snowland, localizado na cidade de Gramado (RS), se consolidou como uma das principais atrações turísticas do Brasil. Possui diversas atrações para pessoas com limitações físicas, como por exemplo, boias de tubbing na neve, cinemas interativos e até um role na patinação. “Temos pessoas na equipe preparadas para lidar com este tipo de necessidade. Tudo dependendo do tipo de limitação que o visitante possua. Nós sempre procuramos fazer o melhor para que todos os visitantes tenham a experiência de brincar na neve”, revela o gerente.
O treinamento dos colaboradores do Snowland passa por constantes capacitações com um especialista na área de esportes de neve paralímpicos, em parceria com a Confederação Brasileira de Esportes de Neve (CBDN), onde eles são instruídos para saber como lidar com as pessoas e como adequar as estruturas. E estão trabalhando para que o parque seja totalmente inclusivo, com novos equipamentos, para poder atender, cada vez mais, pessoas com qualquer tipo de limitação, para que, assim, todos possam se divertir e guardar incríveis memórias.
Para Teo, o envolvimento das empresas de entretenimento com a causa é uma grande demonstração de responsabilidade social e de empatia com o portador de necessidades especiais, entre eles o autista e seus familiares, pois elas têm a obrigação de considerar a acessibilidade, inclusive quando o parque ou a atração são conceituados. Porém, ele ressalta que esse tipo de capacitação deveria ser também das pessoas em geral, e não somente das empresas. “Nunca sabemos quando será necessário ajudar alguém, assim como em situações de primeiros socorros, melhor saber o que fazer e não precisar agir, do que fazer sem saber como proceder”, comenta.
O profissional do Snowland acredita que um parque de diversões, quando se adapta para receber pessoas com deficiência e tem equipes treinadas e capacitadas, além de gerar empatia, pode agregar valor aos negócios. “Com certeza, há um grande mercado dentro das atividades para pessoas com deficiências, especialmente no Brasil, onde a inclusão ainda não está no nível que deveria. E têm muitas pessoas em casa, esperando alguma atividade disponível para curtir. Então, acho que todo empreendimento de entretenimento deveria contemplar isto em seu planejamento financeiro, para poder viabilizar os investimentos necessários em adaptação de estrutura e capacitações necessárias”, finaliza.
2020