Mídias sociais rapidamente dão corpo a tensões do mercado de trabalho. Como as empresas podem lidar?
Por * Camila Petry Feiler
Alguns movimentos estão ganhando força nas redes sociais e impactando as rotinas das empresas. Das demissões que viralizam no TikTok as empresas que são cobradas sobre as licenças que oferecem, como maternidade e paternidade, as hashtags estão chegando aos departamentos de RH, ultrapassando as barreiras digitais e se tornando bem prática: como os funcionários estão se sentindo no lugar de trabalho e o que é possível fazer?
Renan Conde, diretor da Factorial HR, startup espanhola especializada em soluções de automatização de processos para o setor de Recursos Humanos aqui no Brasil, nos ajuda a entender o cenário. Com vasta experiência na área, ele percebe que mesmo com todo avanço tecnológico, as empresas ainda perdem muito tempo com o Excel. O que isso significa? “Que os RHs estão voltados para processos, não para pessoas.” E quando a empresa não está atenta ao que acontece dentro, as consequências surgem em algum momento, isso transborda, vira um problema e uma mensagem negativa nas redes sociais.
A questão começa nas lideranças
Antes de tudo, estamos falando de pessoas que querem trabalhar em lugares alinhados a seus propósitos e querem ser acolhidas em suas individualidades. Por isso, é importante lembrar da empatia também no ambiente de trabalho. “As gerações têm mudado e elas têm buscado o salário emocional, que é importante. As gerações têm prestado atenção no comportamento das empresas, no comportamento dos gestores… E hoje tem um erro que a gente comete, desde sempre, que é: uma pessoa que produz bem não significa que ela é uma boa gestora. E isso não é um problema dela. As empresas ainda pensam que a projeção de carreira é na gestão. E tem gente que não tem o perfil de gestor e tá tudo bem”, explica Renan.
Ao ter um líder sem preparo ou perfil para o papel, a equipe toda sai perdendo, claro. Falta empatia, trabalho em equipe e os problemas começam a aparecer: demissões mal feitas, porque a pessoa realmente não entende disso, ou comportamentos no dia a dia que outro colaborador pode entender como abusivo.
Para Renan, isso é o reflexo de decisões mal tomadas, ou seja, a falta de RH estratégico. E com uma geração cada vez mais rigorosa no mercado de trabalho, é fundamental que as empresas olhem para isso e repensem sua postura.
“Porque não necessariamente aquele colaborador que tá cometendo uma ação que prejudica o outro tem consciência daquilo. Muitas vezes ele não é nem treinado, não é formado para a liderança e simplesmente colocaram ele lá. Então a gente tem que começar a olhar tudo isso, a gente tem que começar a desenvolver pessoas.”
O Impacto das redes Sociais
Neste contexto, as redes sociais se tornam uma via de mão dupla e podem prejudicar tanto empresa quanto colaborador. Para Renan, é preciso cautela, já que nem tudo que está ali é legítimo ou ainda quando um conflito é potencializado levando só um lado em consideração. Entretanto, elas também servem para evidenciar questões importantes. “Elas são vitrines para os bons exemplos, para despertar que as empresas ou os profissionais de RH que estejam ali possam prestar atenção em coisas que antes não ficavam tão claras.”
E hoje existem alguns movimentos nas redes que estão colocando luz sobre pontos importantes para empresas:
Demissões que viralizam no TikTok
Em 2020, a americana Shana Blackwell, uma jovem de 19 anos, anunciou que estava se demitindo da filial do Walmart em que trabalhava usando o microfone do supermercado, onde dizia sofrer assédio moral, e o vídeo se tornou viral.
Nascia ali uma tendência: transmitir demissões ao vivo no TikTok, onde vídeos com a hashtag #QuitMyJob ("Me demito", em inglês) acumulam hoje mais de 200 milhões de visualizações. Também já existem #demissaochallenge e #demissao no Brasil.
Os vídeos evidenciam questões de trabalho importantes, como saúde mental, ambientes tóxicos, assédio e salários, e têm se tornado um tópico comum na rede.
#ShowUsYourLeave
Camila Petry Feiler
Fonte: startse