Em geral, por necessidade ou pela identificação de oportunidades, poucos se preocupam, desde o início, com o assunto
*Por Leonardo Barem Leite
ESG (Environmental, Social and Corporate Governance — que em português significa: Ambiental, Social e Governança Corporativa) é um tema bastante relevante não apenas para empresas de grande porte, mas para todos os tipos de organizações.
Inclusive, dar atenção ao tema desde a criação das instituições pode ajudar a torná-las sustentáveis para um futuro mais promissor.
Pensando nisso, neste artigo você vai entender mais sobre o contexto do mercado e a importância de preparar as organizações para o futuro com base em pilares sólidos.
Os motivos para a constituição de empreendimentos e de negócios, bem como as condições em que são criados e seus objetivos, variam bastante. Muitas vezes, a ideia inicial é apenas “abrir uma empresa”. Em muitos casos, a organização nasce “desorganizada e desalinhada”, sem processos, sem sistemas e “sem norte”.
Por que muitas empresas não têm um futuro sustentável?
Em função da diversidade de modelos e de conceitos existentes, as empresas nem sempre são “feitas/criadas” para durar. Nesse sentido, a introdução do conceito de sustentabilidade — especialmente a plena —, que vem sendo reforçada pela governança corporativa, pelo ESG e pelo Compliance, pode ajudar bastante nessa mudança dos objetivos de diversas organizações.
Pensando em um cenário ideal, seria interessante que todas as pessoas empreendedoras tivessem a correta percepção da importância e das vantagens — especialmente em custos e em riscos — de organizar o negócio desde o início, evitando a necessidade de tantos gastos, esforços e trabalho para as devidas correções futuras (quando possíveis, pois existem alguns casos irreversíveis).
Muitos empresários criam empresas para ganhar dinheiro e vale reforçar que essa não é uma motivação errada. Em geral, por necessidade ou pela identificação de oportunidades, poucos se preocupam, desde o início, com a sustentabilidade — tanto dos produtos/serviços ofertados, quanto da própria organização.
ESG e a importância das organizações se organizarem
Os mais experientes sabem que criar uma empresa é fácil e simples (apesar da burocracia), mas lidar com o dia a dia, as crises e a eventual necessidade de “fechar” é extremamente desgastante e até mesmo custoso.
Vários empresários, felizmente, começaram a considerar no modelo inicial do seu projeto, também o médio e o longo prazo, bem como a própria melhoria da estrutura do negócio com o tempo. Essa evolução se contrapõe ao “velho conceito” de que a organização e a estrutura mínima deveriam ser pensadas apenas quando estivessem “grandes e fortes”.
Certamente, a maioria dos que não se organizam desde o início, desde pequenos, sequer chega a crescer. Entender esse aspecto é algo muito sério, pois é um cenário preocupante e de muitas perdas (de sonhos, tempo, esforços, entre outros recursos).
Essa triste realidade, que nos mostra tantos negócios que “vivem pouco” e “logo morrem”, tem gerado a perda de recursos que, finalmente, tende a mudar e a melhorar, por diversas questões atuais.
Mais pessoas têm percebido que os cenários mudam cada vez mais rapidamente e que muitas das empresas “antigas e tradicionais” estão “morrendo”, deixando o país e/ou sendo vendidas mais rapidamente do que antes.
Um lado positivo é que boa parte do empresariado, mesmo no nível iniciante e de pequeno porte, está procurando entender as principais razões da longevidade de alguns empreendimentos e da mortalidade acelerada da maioria. Essa longevidade citada tem relação direta com o ESG.
As mudanças no mercado e em tudo o que envolve ESG
Os riscos e as pressões mudaram, os mercados mudaram, o consumidor mudou, as sociedades estão mudando, os motivos pelos quais se escolhe e compra produtos mudam constantemente e, pensando nisso, é preciso aumentar a atenção e o cuidado para que as “surpresas” ocorram com menos frequência.
Os ciclos de vida dos produtos e dos serviços e talvez também das organizações, assim como de vários segmentos e setores, estão sendo abreviados e “envelhecendo” cada vez mais rapidamente — sobrando menos tempo para improvisos e erros.
As empresas precisam, portanto, mudar e melhorar, sob diversos aspectos, das mais jovens às mais tradicionais. Esse movimento vem gerando ajustes profundos nos investimentos, nos conselhos e nas diretorias, nos executivos e nas equipes de forma geral.
Já se vê, por exemplo, uma grande evolução no perfil de vários conselhos, nas competências e nas características das pessoas escolhidas, bem como na forma como atuam.
O próprio “trabalho” dessas pessoas vem mudando e afetando, inclusive, a maneira como passam a considerar a matriz de risco, as dependências, as redundâncias, as alternativas, a geopolítica, entre outros aspectos — principalmente por considerar que a amplitude de tais riscos vem aumentando muito.
Novos riscos para as empresas
Além dos “riscos tradicionais”, nos últimos anos, muitas empresas perceberam que precisam considerar vários outros (adicionais). Podemos citar:
• a redundância de modais energéticos e logísticos;
• mudança de fornecedores (para que sejam menos dependentes de poucos fornecedores, como ocorreu com grande parte da cadeia produtiva que se localiza em países como China, Índia, Rússia e Ucrânia);
• riscos sanitários/pandêmicos;
• riscos digitais (invasões, vazamentos, comprometimento, sequestro de dados e tantos outros na esfera tecnológica);
• falta de Compliance, de governança e de sustentabilidade nos parceiros;
• problemas com corrupção, imagem e reputação (inclusive em função de questões ligadas aos terceirizados);
• ativismo do consumidor (inclusive em redes sociais);
• mudanças de padrões sociais e dos consumidores;
• “abandono” de práticas e de costumes antigos;
• clamor social por sustentabilidade;
• além de tantos outros.
Alguns desses riscos podem impactar fortemente os negócios, ao ponto de conseguir “matá-los” rapidamente.
É bastante provável que as empresas que não incluírem a sustentabilidade plena em seus modelos de negócios (e não cobrarem o mesmo dos parceiros) sejam impactadas de forma crescente, afetando até mesmo a viabilidade e a sobrevivência de muitas.
Manter os custos baixos
Manter os custos baixos sempre foi uma preocupação importante, mas que agora se percebe que precisa ser “temperada” com a qualidade e a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. Isso vai envolver fornecedores, distribuidores, terceirizados e outros envolvidos, sob pena de fazerem “economia” onde não se pode.
Foco na sustentabilidade
O foco na sustentabilidade passou a ser (e precisa ser ainda mais) incluído na pauta permanente das organizações.
É preciso que esse assunto se torne uma preocupação constante em todas as suas decisões, em todos os seus movimentos e prática — de forma consciente e coerente.
ROI — Retorno sobre investimento
O antigo objetivo da rentabilidade e do retorno sobre o investimento e o capital, acima de outras preocupações (e a “qualquer custo”), precisa ser rapidamente revisto e ajustado. Esse foco, em alguns casos, indicava a “ditadura dos quarters” (em função dos resultados financeiros divulgados aos mercados e de seus impactos sobre o valor das empresas e os bônus de seus principais executivos).
Reformulação de algumas áreas
Áreas como suprimentos, compras e logística, dentre outras, precisarão ser quase que totalmente reformuladas e orientadas novamente, a fim de que entendam a importância e o valor da sustentabilidade e da qualidade, bem como para que considerem imagem, reputação, governança e Compliance, dentre os itens principais para a tomada de decisão e para as suas escolhas.
Vemos, assim, em muitos casos, uma “revolução” nos modelos de negócios e de gestão, que ainda está evoluindo, mas que já mostra tendências importantes e sólidas.
O universo corporativo costuma considerar produtos e serviços, criatividade e inovação, planos de negócios, automação e tecnologia, marketing, investimento e financiamento, resultados financeiros e retorno, dentre outras questões extremamente importantes. É preciso ampliar esse “leque”.
As mudanças no mercado e o pensamento de curto prazo
Nem todas as organizações se preocupam com a sustentabilidade do negócio e delas próprias, ao passo que muitas sequer têm a “vida longa” entre os seus principais pilares — o que costuma ser um grande erro e um problema.
Especialmente no caso brasileiro, em que as crises (especialmente, mas não apenas econômicas e políticas) são tão frequentes, é muito comum que grande parte dos empreendedores se preocupe mais com “o hoje e o agora”, com a sobrevivência no curto prazo, do que com o “futuro”.
Estratégia e gestão
No campo da estratégia e da gestão, estamos redefinindo o conceito de tempo e a relação entre passado, presente e futuro.
É preciso seguir conhecendo o passado e aprendendo com ele (especialmente para não cometer novamente os mesmos erros), vivendo o presente, mas com um olhar atento no futuro, antecipando tendências, oportunidades e riscos.
ESG e as tendências para o futuro
No tocante ao futuro do ESG, uma das “verdades” é que em muitos aspectos ele será diferente (em várias questões, com muitas diferenças).
Terão um futuro efetivo, apenas as empresas:
realmente inovadoras e criativas;
conscientes e responsáveis;
com foco em sustentabilidade;
bem-organizadas e estruturadas, em todos os segmentos, e que não pensem apenas “no lucro em curto prazo” ou na automação.
Por mais simples e singelo que pareça, para que as empresas consigam crescer e ganhar cada vez mais dinheiro, para que valham mais, precisam “primeiro” continuar existindo — e poucos têm essa questão tão clara quanto o necessário.
Vemos com grande empolgação a chegada da governança corporativa, do ESG e do Compliance, com foco em integridade e em sustentabilidade plena, ao centro dos modelos de negócios e das principais decisões do mundo corporativo contemporâneo.
Empresas feitas para durar e para crescer precisam ser realmente inovadoras e sustentáveis em todos os aspectos, em todas as suas decisões e em todos os seus movimentos. É importante que entendam esse contexto desde o início e enquanto houver tempo.
Leonardo Barem Leite
Sócio sênior do escritório Almeida Advogados
Crédtio da imagem: unDraw