Após quase 11 anos do fechamento, frequentadores e ex-funcionários compartilham fotos e vídeos nas redes sociais
Frequentadores e ex-funcionários são unânimes em afirmar: o Playcenter era um local mágico, onde os problemas ficavam do lado de fora dos portões. Fundado em 1973, o parque de diversões funcionou durante quase quatro décadas em um terreno de 85 mil metros quadrados — equivalente a 10 campos de futebol — na Barra Funda, zona oeste da capital. Após quase 11 anos do fechamento, o empreendimento deixou uma legião de fãs nostálgicos que se reúnem nas redes sociais para relembrar os velhos tempos.
O técnico de informática Gabriel Figueiredo, de 26 anos, é um dos administradores do grupo "Eternamente Playcenter", criado em 2018, no Facebook. Diariamente, os mais de 35 mil participantes compartilham fotos, vídeos e histórias sobre o parque, que fechou as portas em julho de 2012. O espaço funciona como um acervo virtual.
Um dos membros com maior número de fotografias e vídeos postados no grupo, Gabriel deu início à sua história com o Playcenter durante a infância. "Meus pais frequentaram o parque nos anos 1970 e 1980. Eu comecei a ir aos 11 anos. O amor passou pela família", conta o jovem, que é filho único.
A primeira visita foi em 2007. "Ia ter um passeio com a escola ao Playcenter, mas eu não consegui ir. Então, minha mãe ligou para a central de relacionamentos e conseguiu os ingressos. Quando eu entrei no parque e ouvi os gritos [das crianças] e as músicas, eu me encantei".
Durante cinco anos, Gabriel frequentou o Playcenter pelo menos uma vez por mês. Ao R7, ele relembra que as melhores visitas eram durante a semana, pois o local ficava vazio. "Dava para ir umas 15 vezes no Boomerang, a principal montanha-russa do parque. Parece que os problemas ficavam do lado de fora. Realmente era um lugar diferenciado", afirma.
Depois de enfrentar crises e problemas financeiros em decorrência das despesas elevadas com o aluguel dos terrenos, o Playcenter encerrou as atividades em 29 de julho de 2012. Atualmente, a área abriga prédios, escola e uma área de mata fechada. Gabriel relembra que foi o primeiro a chegar e o último a deixar o parque de diversões naquele dia.
Para se despedir, Marcelo Gutglas, o dono do empreendimento, também recepcionou os visitantes e os funcionários. Superfã do Playcenter, Gabriel — com 16 anos na época — chegou a tirar uma foto com o empresário. Essa é uma das dezenas de memórias compartilhadas no grupo do Facebook pelo jovem, que também é o idealizador de um podcast sobre parques de diversões.
O amor pelo Playcenter também é dividido entre ex-funcionários. O cuidador Robson Rodrigues, de 54 anos, conta que tinha o sonho de trabalhar na montanha-russa Super Jet desde pequeno. Às margens da marginal Tietê, a atração tinha 16 metros de altura e seu carrinho chegava a 80 km/h.
Nos anos 1980, quando completou 18 anos, Robson conseguiu entrar para o time de funcionários do parque, considerado um dos cartões-postais da capital. Movido pela curiosidade, ele trabalhou em todos os departamentos: operação de brinquedos, portaria, merchandising, alimentos e bebidas, e controle da cabine de som.
Durante quase 20 anos de trabalho, Robson também presenciou shows de algumas celebridades e bandas, como Menudo e Michael Jackson, além do mágico David Copperfield. Para ele, a experiência no empreendimento funcionou como uma faculdade. "Eu tive o privilégio de conhecer um pouco de tudo o que se refere ao Playcenter. Foi um aprendizado de vida sobre uma empresa", reitera.
Em 2000, o cuidador deixou o Playcenter e, mais tarde, decidiu se reunir com ex-funcionários para criar o grupo "Playcenter, Playcard, Visitantes e Ex-Funcionários", também no Facebook. Atualmente, há mais de 4.000 participantes, e o espaço virtual funciona como uma enciclopédia sobre o parque.
“Criamos o grupo para não perdermos o que vivenciamos no passado. Era uma Disney brasileira. O Playcenter é algo que ninguém vai esquecer enquanto o pessoal continuar lembrando", afirma.
"Já está no sangue"
Outro administrador e ex-funcionário do grupo no Facebook é Nilson de Lucca, de 44 anos. Ele também é idealizador de um podcast dedicado a parques de diversões. Como os outros fãs, o fascínio pelo Playcenter começou cedo, aos 11 anos, e passou entre os membros da família. "Quando eu era criança, meu irmão trabalhava no [brinquedo] La Bamba. [A paixão] já está no sangue", afirma.
A primeira vez que Nilson pisou no Playcenter foi em 1989, acompanhado do pai. Após oito anos como visitante, ele conseguiu uma vaga de operador de brinquedo ao completar 18 anos. Essa função era conhecida pela forte interação com o público. Como as filas das atrações podiam ser extensas, os funcionários eram responsáveis por animar os jovens ao som das músicas de maior sucesso nas rádios.
"No início, eu era muito tímido, porém me falavam que eu tinha que agitar a galera. Em um ano, eu consegui mudar e animar todo mundo", relata Nilson. Durante oito anos, ele operou diversos brinquedos, como o barco Viking, o Carrossel, a montanha-russa Boomerang, o Kamikaze e o Double Shock.
Em razão de uma reestruturação provocada pela crise financeira, Nilson foi demitido do parque de diversões em 2005. “Eu cheguei na sala e o gerente me disse que não dava mais para ficar lá. Quando eu desci as escadas, comecei a chorar. Era muito bom trabalhar lá. Você fazia as pessoas felizes", relembra.
"A capital ficou órfã de um entretenimento"
A memória mais especial do estudante de psicologia Eduardo Munarim sobre o Playcenter é de sua primeira visita com a família, em 1999. "Quando eu vi os brinquedos, percebi que aquele lugar era diferente de tudo o que eu já tinha visto. O Playcenter tinha algo que parecia mágico. Todos os seus problemas ficavam da portaria para fora", descreve.
Uma das características marcantes do empreendimento, citada de forma recorrente pelos visitantes, era a animação dos funcionários. "Os operadores dos brinquedos eram superanimados e ainda tocavam músicas bem agitadas em todos os brinquedos. Parecia uma balada", recorda Eduardo.
Para o estudante de psicologia, que frequentou o parque entre os anos de 1999 e 2012, a melhor atração era o Turbo Drop, um elevador com 60 metros de altura. "Demorei para criar coragem de andar nele. Comecei a frequentar o parque com 9 anos e só fui ter coragem de enfrentá-lo aos 14 anos. Depois da primeira experiência, não deixei mais de ir nem sequer uma vez."
Eduardo descobriu que o parque fecharia as portas pela internet. "Bateu um sentimento de muita tristeza. Eu senti que a cidade de São Paulo estava perdendo um pouco de sua alegria e diversão. A capital paulista ficou órfã de um entretenimento tão importante para ela", desabafa.
Após quase 11 anos fechado, onde estão os brinquedos do Playcenter?
Há mais de dez anos, o Playcenter, considerado um cartão-postal da cidade de São Paulo, fechou as portas. Inaugurado em 1973, o parque de diversões funcionava em um terreno de 85 mil m² na marginal Tietê, próximo à ponte do Limão, na Barra Funda. Ao longo de quase quatro décadas, o empreendimento recebeu milhões de visitantes e enfrentou diversas crises, como queda de público e acidentes com vítimas, além das despesas elevadas com os aluguéis dos terrenos e a manutenção dos brinquedos. Com o fechamento. em 2012, as atrações do Playcenter foram vendidas e transferidas para outros parques. Fonte: Mônica Zarattini/AGE/Estadão Conteúdo - 29.03.2012
Fonte: noticias.r7
Legenda imagem 1: Robson e um colega de trabalho no Playcenter
ARQUIVO PESSOAL
Legenda imagem 2: Gabriel com o dono do Playcenter, Marcelo Gutglas
Legenda imagem 3: Nilson desce escorredor com amiga no Playcenter
Legenda imagem 4: Eduardo durante visita ao Playcenter
Imagem 5: Playcenter